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Efeitos da Variação Sazonal da Temperatura na Bexiga Hiperativa

Efeitos da Variação Sazonal da Temperatura na Bexiga Hiperativa

Efeitos da Variação Sazonal da Temperatura na Bexiga Hiperativa

É verdade que as pessoas urinam mais nos meses mais frios? A resposta é sim!

Se acredita que vai mais vezes ao WC no inverno, não é imaginação sua, nem é coincidência. Para a maioria das pessoas isso é uma realidade e não é um problema que afete o dia-a-dia, mas para aqueles que padecem de problemas de incontinência urinária, bexiga hiperativa ou outros problemas relacionados com o trato urinário, pode ser.

A Temperatura e a sua Bexiga

Mas, exatamente como é que a temperatura pode afetar a bexiga? Uma das razões para o aumento de produção de urina no inverno está relacionado com o facto de não transpirarmos tanto quanto nos meses mais quentes. Com a descida da temperatura, como perdemos menos fluidos com a transpiração, produzimos maior quantidade de urina. Neste caso a vontade de ir ao WC aumenta.

Outra explicação fisiológica, é que quando faz frio o nosso corpo não está tão dilatado como no verão – algo muito fácil de verificar se olharmos para os nossos pés ou mãos – esse inchaço acontece porque há retenção de líquidos.

No inverno, como estamos mais contraídos, essa retenção de líquidos é menor e, por isso, produzimos mais urina do que no verão. O que acontece durante o inverno quando nos expomos a temperaturas baixas, é a chamada diurese do frio ou diurese induzida pelo frio.

Quando as temperaturas caem, os vasos sanguíneos do nosso corpo contraem-se para concentrar a maior quantidade possível de fluxo sanguíneo em volta dos nossos órgãos vitais, que ficam longe da pele. Por esse motivo, sentimos frio nas mãos, nos pés, no nariz e noutras extremidades. Os vasos contraem-se, significando isto que o sangue – que existe na mesma quantidade – tem menos espaço para circular, fazendo subir a pressão sanguínea. É nesse momento que entra em ação a diurese: as células arteriais nos rins percebem um aumento da pressão e enviam um sinal para que os rins eliminem líquidos que não são necessários e, assim, regular a pressão arterial.

Que influência tem este processo numa Bexiga Hiperativa?

A International Continence Society definiu bexiga hiperativa como um sintoma caracterizado por urgência urinária, com ou sem incontinência urinária, e por aumento da frequência diurna e noturna, desde que não seja associado a problemas de infeção comprovada ou outras patologias óbvias. De acordo com um grande estudo internacional, aproximadamente 10,7% (4,3 bilhões) da população mundial em 2008 apresentou Bexiga Hiperativa e é expectável que este número continue a aumentar.

O principal sintoma patológico da bexiga hiperativa está associado à contração anormal da bexiga durante a fase de enchimento da micção, levando a alterações em outros sintomas complexos da bexiga hiperativa. Esta condição resulta de contrações involuntárias comumente causadas por obstrução da saída da bexiga, incontinência urinária de esforço, envelhecimento ou possíveis idiopatias. Alguns investigadores revelaram ainda que agentes (como por exemplo, cafeína e nicotina) afetam a estimulação da acetilcolina e podem estar associados a sintomas de bexiga hiperativa.

Mas em que medida a temperatura atmosférica pode afetar a Bexiga Hiperativa?

Estudos revelaram que existia relação entre o stress pelo frio e a hiperatividade do detrusor em modelos animais. Alguns estudos epidemiológicos sugeriram que a prevalência de sintomas do trato urinário inferior é maior durante o inverno do que durante o verão com base em estudos transversais, e estudos em animais identificaram hiperatividade detrusora induzida por stress pelo frio.

Observado este fenómeno nos animais foi necessário estudar a influência da temperatura ambiente na Bexiga Hiperativa Humana, pelo que se realizou um estudo que tinha como objetivo identificar o impacto da temperatura externa nos sintomas de bexiga hiperativa em mulheres (sem piúria no exame de urina).

Foi assim realizado um estudo conduzido de acordo com a Declaração de Helsinki em que foram recolhidos dados de pacientes que visitaram o Departamento de Urologia entre janeiro de 2011 e dezembro de 2017 e que foram avaliados retrospetivamente.

O estudo teve por base a população da cidade de Ansan, na Coreia do Sul. Esta cidade tem 4 estações distintas e o inverno pode ser extremamente frio com uma temperatura mínima de -20ºC. No entanto, o verão é quente e húmido com temperaturas superiores a 30ºC e a temperatura média em agosto variou de 22ºC a 30ºC. Segundo os dados apurados, os 4 meses mais frios foram janeiro, fevereiro, março e dezembro; os 4 meses mais quentes foram junho, julho, agosto e setembro; e os meses intermediários foram abril, maio, outubro e novembro. Os pacientes foram agrupados num desses grupos de 3 estações, dependendo da temperatura média do mês durante a primeira visita do paciente ao ambulatório do departamento de urologia.

Figura 1
Figura 1 - As temperaturas médias mensais e a proporção de pacientes com sintomas de bexiga hiperativa.

Resultados do Estudo

As temperaturas médias mensais e a proporção de pacientes que visitaram o Departamento de Urologia para sintomas de bexiga hiperativa estão expostas na figura acima. Os pacientes visitaram o Departamento de Urologia com mais frequência com sintomas de bexiga hiperativa em janeiro e dezembro, com menor número de visitas em maio. No entanto, não foram observadas diferenças significativas no número de pacientes que visitam com sintomas de bexiga hiperativa por temporada.

As características basais dos pacientes são apresentadas na Tabela 1. As idades médias dos participantes na estação intermédia, quente e fria foram 55,47±16,45, 55,76±15,89 e 53,80±15,70, respetivamente. O índice de massa corporal (IMC) médio do grupo da estação intermédia foi de 23,59±3,69 kg/m2, do grupo da estação quente de 23,50±3,54 kg/m2 e do grupo da estação fria de 24,33±3,72 kg/m2. Os 3 grupos não diferiram significativamente em termos de idade e IMC. Além disso, os 3 grupos não diferiram significativamente em termos de comorbidades (diabetes, hipertensão, câncer, operação ginecológica, menopausa e história de cirurgia para incontinência), história de medicação (medicação antipsicótica, tratamento prévio de bexiga hiperativa) e ocupação.

Tabela 1
Tabela 1 - Distribuição e características dos pacientes (n=582)

A Tabela 2 mostra os resultados iniciais do uroflow e diário miccional de 3 dias. Diferenças significativas foram encontradas nos 3 grupos na frequência diurna, episódios de incontinência urinária (IU), episódios de incontinência urinária de urgência (IUU) e número de episódios de urgência (grau 3 ou 4). Os pacientes no grupo da estação fria mostraram especialmente mais episódios de IU (3,62±1,27 vs. 3,07±1,34, P=0,001), episódios de IU (2,48 ±0,87 vs. 2,06 ±0,94, P =0,001), frequência diurna (12,12 ± 4,56 vs. 10,95 ±4,39, P =0,021) e número de episódios de urgência (grau 3 ou 4) (6,22±2,34 vs. 5,67±2,20, P=0,030) do que no grupo da estação quente. Além disso, o grupo da estação fria teve maior frequência diurna (12,12 ±4,56 vs. 11,01 ±3,99, P=0,023), episódios de IU (3,62±1,27 vs. 3,28±1,30, P=0,018), episódios de IU (2,48±0,87 vs. 2,23±0,83, P=0,019) e número de episódios de urgência (grau 3 ou 4) (6,22±2,34 vs. 5,64±2,00, P=0,019) do que no grupo da estação intermediária. No entanto, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos de estação intermediária e quente no diário miccional de 3 dias. Além disso, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos de 3 estações no parâmetro uroflow, volume total de micção diurna, volume médio de micção e número de micções noturnas.

Tabela 2

Observou-se também uma diferença significativa no “resultado de sintomas de bexiga hiperativa” (OABSS) total dos 3 grupos (6,24±3,40 vs. 5,51±3,20 vs. 7,25±3,20, P=0,001) (Tabela 3). Três resultados de sintomas de OABSS (frequência diurna, urgência e incontinência de urgência) foram maiores no grupo da estação fria do que nos grupos da estação quente e intermédia. No entanto, o resultado de sintomas de frequência noturna de OABSS não foi significativamente diferente entre os grupos. A proporção de pacientes com sintomas moderados a graves com base no OABSS foi maior no grupo frio do que nos grupos quente e intermediário (frio [56,2%] vs. intermediário [42,1%] vs. quente [31,8%], P =0,002). No entanto, nenhuma diferença significativa foi observada na proporção de pacientes com sintomas graves de bexiga hiperativa (frio [12,3%] vs. intermediário [7,3%] vs. quente [8,2%], P=0,178).

Tabela 3
Tabela 3 - Comparação de escores de sintomas de bexiga hiperativa

Mitigação dos Efeitos

A conclusão deste estudo revelou que diferentes sintomas urinários e parâmetros urofluxmétricos foram correlacionados com a variação sazonal e que os sintomas de Bexiga Hiperativa podem ser piores na estação fria do que noutras estações.

Fica também provado que embora haja uma correlação entre as estações frias e a vontade de urinar um pouco mais do que o normal durante o inverno esta situação não afeta a sua saúde, contudo para quem tem Bexiga Hiperativa, em particular para os que padecem de incontinência urinária, o inverno pode agravar essa condição. Recomenda-se assim que utilize algumas estratégias para mitigar esta situação:

  • Evitar beber café. Se gosta de café e é usual beber três ou quatro para evitar os calafrios do inverno, isso pode afetar a sua bexiga. A cafeína pode irritar a bexiga, o que aumenta a vontade de urinar ou pode agravar o vazamento. Substitua a cafeína por uma chávena de chá de ervas quente. É bom não esquecer que existem chás com teína e que produz o mesmo efeito que o café pelo que deve também moderar a ingestão deste tipo de chás.
  • Também é usual fazermos ingestão de menor número de líquidos nas estações frias, contudo é importante perceber que a desidratação não só pode afetar sua saúde em geral, mas ao contrário do que pode pensar, também pode aumentar sua incontinência urinária, pois ficará mais propenso a vazamentos e irritação da bexiga quando a urina está concentrada. Isso também pode aumentar o risco de uma infeção do trato urinário.
  • Outra sugestão é evitar o hábito de ir ao WC “por via das dúvidas”, já que isso faz com que nossa bexiga tenha menor capacidade. Vá ao WC quando a bexiga estiver cheia e sentir que precisa ir, ainda que não haja problema em esvaziar a bexiga antes de ir dormir.
  • Dedique o tempo necessário ao momento de urinar, para dar à bexiga a oportunidade de se esvaziar por completo. “Urinar às pressas pode fazer com que a sua bexiga não se esvazie por completo e aumentar o risco de infeções urinárias.

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